terça-feira, 16 de junho de 2009

Jornal da Rua e novas cenas musicais


Jornal da Rua
Composição: Macakongs 2099



Papocando besouro sem asa
É a estrela do dia
No jornal da rua
Mastiga o cimento
Que hoje não tem polenta
E apanhou feito a Tiazinha
Toda roxa perdeu o sentido
Desceram a mão bonito
Na bolsa da véia
Só tinha umas moedas
E uns comprimidos
Reza ligeiro,
Segura a medalhinha
E então sapeca o dedo
Fazer o mal, eu sei
Não está certo
Na briga de cachorro grande
O bem quase sempre é
Quem leva ferro
Extra! Extra!
Violência vende igual pão quente
Mente, invente e beije a boca da serpente
Troca tiro na agência do banco
Pra cada bala certa era uma queda
Mastigas as abelhas
Que hoje não tem melado
Fugiu forrado o meliante
Até agora não encontrado
Já saiu do estado
Só deixou tristeza, ódio
E muito sangue no seu rastro

domingo, 7 de junho de 2009

Homofobia, violência e direitos humanos


IDENTIDADE DE GÊNERO

Por Cínthia Antunes


O fórum realizado pela UFMG, dia 27 de maio, abordou o tema Homofobia, Violência e direitos humanos (ao lado, imagem da Parada de Contagem 2009, um dos eventos dos Nuh - Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania). O tema não é novo, mas toma uma proporção maior diante da violência e intolerância crescente. O jornal O Tempo publicou no sábado, 30 de maio, uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo (FPA), segundo a qual 11% dos homossexuais no estado de Minas Gerais afirmam que sofreram discriminação policial ou outro tipo de discriminação institucionalizada. Setenta por cento dos entrevistados afirmam que a homofobia deve ser resolvida pelos próprios homossexuais e 7% dos gays afirmam que já foram agredidos fisicamente por serem homossexuais.

Para o professor da UFMG, Marco Aurélio Prado, doutor em Psicologia Social pela PUC de São Paulo e pesquisador dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais), levantar apenas a bandeira em defesa dos homossexuais não basta, é preciso entender o porquê da homofobia. Segundo ele “é importante estudar o que sustenta a homofobia”. Sua origem, pode estar no fato da sociedade sofrer uma forte inibição da sexualidade e do corpo e, talvez, por isso, os homossexuais sejam tão discriminados.

Marco Aurélio ressalta que uma pesquisa não deve ser neutra, ela deve ter uma posição sobre o tema que está pesquisando. Ele cita o sociólogo e pesquisador Pierre Bourdieu, que afirma que essa violência é uma forma de poder. Marco Aurélio afirma que quando uma mulher se cala quando um homem a agride, ela está reafirmando o poder dele; quando um negro se cala diante do racismo, ele está reafirmando o poder do branco e quando um homossexual se cala diante da homofobia, está reafirmando o poder do heterossexual. Para ele, os grupos de minorias como negros, mulheres, gays e lésbicas deveriam se unir como forma de solidariedade e para levantarem sua voz.

Há ainda, de acordo com Marco Aurélio, pesquisas financiadas que chegam a ser absurdas, afirmando que a homossexualidade é uma possessão do demônio.

Segundo o pesquisador, muitas vezes o olhar e as palavras das pessoas excluem e matam os homossexuais. As pessoas quando vêem um gay apontam para ele e outras até escondem as crianças para que não o vejam. Marco Aurélio também diz que é como se a sigla LGBT contaminasse as pessoas, como um vírus.

Para Marco Aurélio, outra forma de discriminação é a atenção com a saúde. A sociedade vem discutindo a saúde dos gays, mas as questões que envolvem a saúde das lésbicas não foram reconhecidas e é importante que haja preocupação com a saúde delas. Ele também afirma que as lésbicas são vistas como perigosas, por revelarem outras formas de prazer sexual para as mulheres.

O professor encerrou a palestra falando sobre as leis. Ele diz que as leis existentes são insuficientes para resolver o problema da homofobia. No Brasil, apenas pequenos pontos de violência contra os homossexuais, casos isolados, são reconhecidos. Por exemplo, apesar de existirem leis para que médicos e psicólogos não digam que a homossexualidade é uma doença, essas leis não são seguidas por todos os profissionais de saúde.

terça-feira, 2 de junho de 2009

JR entrevista Lili Anderson


IDENTIDADE DE GÊNERO

Vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ALGBT)

“Muitas meninas que estão inseridas no espaço escolar são obrigadas a esconder a sua transexualidade enquanto estiverem na universidade, e até depois, para poderem se inserir no mercado de trabalho”, afirma Lili (à esquerda, na fotografia). Com personalidade e franqueza, a vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays Bissexuais e Transexuais (ALGBT), a capixaba Liliane Anderson conversou com universitários e professores do Uni-BH a convite do Jornal da Rua, no final da tarde de segunda-feira, 13 de abril de 2009.

No Centro de Produção Multimídia do Uni-BH, a transexual (ela assim se auto-denomina, mesmo sem ter feito cirurgia para mudança de sexo) abordou diferentes temas em duas horas de conversa com o público, tais como a diferença entre travesti e transexual, prostituição, invisibilidade social, projetos e atuação governamental para transexuais e travestis, saúde, violência física e desrespeito aos direitos do cidadão. Uma palestra franca e surpreendente, que você acompanha em detalhes no Jornal da Rua Online.

Travesti e transexual

O travesti não quer ser comparada nem como mulher, nem como homem. Nós, transexuais, quisemos participar do programa “Saúde da Mulher”, assim como ficamos junto com o movimento das feministas. As travestis vão usar o lado feminino no lado social, por medo de ser agredida. Mas a luta é outra. Nós, transexuais, mesmo os que não querem fazer cirurgia, repudiamos nosso órgão sexual, diferente das travestis que não repudiam. Eu não penso em fazer a cirurgia. Dá para perceber que o Brasil não está preparado para isso. Quantas cirurgias as “meninas” fazem e tem problemas adiante? E o tratamento psicológico que é passado não se encaixa no nosso padrão. >>> Para saber mais, clique aqui.

Transexuais com sexo-alvo masculino (mulheres que querem ser homens)

São muito pouco falados. Temos vários no Brasil. No Sudeste, temos o Xande, que tem uma filha, e que, com o tempo, se descobriu como homem. Temos também o Régis, que é de São Paulo e trabalha na Guarda Municipal. Quando se fala nisso, pensa-se muito no homem como mulher, mas existe o inverso também.

Invisibilidade

Como é que vocês vêem a questão dos travestis? [Lili rompe o silêncio momentâneo com a pergunta]. Às vezes, temos no nosso imaginário, uma imagem péssima delas, já que não conhecemos essa população. Se vocês falarem que não vêem, vou sair daqui com a minha identidade roubada, pois eu sei as olhadas que recebo quando saio às ruas. >>> Confira as respostas dos participantes clicando aqui.

Recepção no Ministério da Cultura

Eles sempre nos recebem muito bem, principalmente quando o Gilberto Gil era ministro, assim como o Ministério da Justiça. Tanto é que os dois ministérios estavam na nossa última conferência nacional LGBT e a Educação também esteve presente.

Exclusão em diferentes esferas

O primeiro espaço que é negado a essas pessoas [travestis] é o da família. É visto que é melhor a pessoa se vestir e se comportar como homem, por causa do vizinho e dos amigos.

Os travestis têm uma identidade que não necessita que carreguemos uma bandeira de arco-íris. Nossa identidade está estampada o tempo todo. Pro gay é muito mais fácil se inserir num ambiente, pois ele consegue passar batido, sem chamar muita atenção. Agora um travesti e um transexual, a partir do momento que mostra o documento, por mais feminina que seja, é detonada.

O segundo espaço é o escolar. Este
[1] “Educação para Todos” é falso. O educador não está sabendo lidar com a homossexualidade e a gente vê isso o tempo todo. Eles chamam o pai para “resolver o problema”, e, o que ele vai fazer com aquela criança? Ou vai mudar de escola ou vai espancar. Ali a criança começa a assumir a homossexualidade dela. Começa a tomar hormônio, construir sua identidade, até usar roupa feminina. A escola não está preparada para aceitar. Começam as piadas dos próprios professores, depois vem dos alunos e esse aluno homossexual vai sair da escola. Uma travesti pode entrar na universidade, mas ela não vai conseguir sair formada dali.

O terceiro espaço é a sociedade, que é hipócrita. O travesti que está no sinal incomoda, mas ninguém para e reflete sobre que leva essas pessoas a se prostituírem. É muito mais fácil apontar o dedo e fazer uma crítica. Eu acho que os universitários têm que levantar essa pauta. Mas não adianta fazer pesquisa e ficar engavetada. Isso é o que a gente mais vê (Lili fala sobre as diferentes esferas de exclusão).

Prostituição

O Nordeste é onde as crianças saem mais cedo de casa e vão para a prostituição, com 13, 14 anos. Em São Paulo há uma casa de prostituição com 300 travestis do Nordeste. O conselho tutelar não assiste a essa população de crianças travestis, que estão na prostituição e que nem são daqui! Esses dias, eu passei três dias na zona de Campinas e vi um garoto de 14 anos se prostituindo. A sorte dele é que a cafetina o colocou na escola. Isso, porque ela é politizada. Se não fosse, ele estaria apenas trabalhando. Lá, o trabalho na zona começa 9 horas da manhã e vai até 22. Quem vai lá, está à procura de sexo. É um lugar só de prostituição, em que você encontra meninas e travestis. Menina menor de idade não encontra, mas travestis menores [de idade] são o que mais têm.

Nunca me prostituí, mas não sou contra. Sou contra umas meninas que querem discutir a prostituição e eu acho que não é o momento para discutir isso. Quantas universitárias você vê na prostituição? Quantos desclassificados? Quantas mulheres na Guaicurus? Elas estão ali porque fizeram disso uma profissão. Infelizmente, na nossa vida [isso] é muito complicado, porque hoje eu estou aqui, mas amanhã eu não sei. A questão é falta de opção. Quando meu contrato acabou na prefeitura fiquei louca pensando o que iria fazer, se iria pra rua, o que
faria. Até que o [2] Marco Aurélio me convidou para UFMG. Por isso, não sou nem a favor e nem contra, eu respeito aquelas que fazem disso a sua profissão.

Projetos

O movimento, hoje, tem vários projetos. Temos para os GBT. Temos o Tulipa, que fui coordenadora na Região Sudeste. O único estado que não consegui chegar foi Minas Gerais, o pior para se aproximar. Eu achava que não conseguiria alcançar São Paulo, por ser enorme. Mas a aceitação foi ótima. Já o governo de Minas não faz nada. Fica com cara de paisagem, para todo mundo achar que é ótimo, e é péssimo. Os setores sociais não conseguem bater de frente com o governo. >>> Confira mais projetos clicando aqui.

Destaques

Temos uma engenheira civil que é travesti. Ela trabalha em uma obra e quebra todos os preconceitos.

Tivemos a Janaína Dutra, uma advogada de Fortaleza que veio a falecer. Ela foi a única do Brasil com a carteirinha da OAB e, ainda, ficou no Ministério da Justiça. Muitas das leis que temos hoje na saúde foram implantadas por ela, que conseguiu conquistar a bancada evangélica. (Roberto pergunta a Lili sobre destaques entre os travestis). >>> Clique aqui e conheça outros casos bem-sucedidos.

Concurso público

Muitas pessoas perguntam por que os travestis não fazem concurso público. Mas não adianta. Quando passa e vai apresentar os documentos, falam que as vagas já estão ocupadas. Você passa e fica na espera. Isso é tão comum! A maioria dessas pessoas não conhece a questão dos direitos humanos e acabam aceitando essa situação. >>> Leia sobre o caso de uma estudante aprovada em primeiro lugar, clicando aqui.

Saúde e violência

Essa questão de saúde, proteção, a gente tem levado para o “Educação para Todos”. O Brasil está muito preocupado com o jovem e tem começado a educar nesse lado de prevenção. A violência é muito grande sim e não é mostrado na mídia. Aqui em Minas, muitas travestis são mortas. Quando a gente pega o número de assassinados na nossa população, ela é maior contra homossexuais masculinos. Não sei se é porque estamos inseridas o tempo todo como marginais, conclui Liliane Anderson sua participação no evento.

NOTAS
____________________________________
[1] O movimento da Educação para Todos é um compromisso mundial para prover uma educação básica de qualidade a todas as crianças e a todos os jovens e adultos. O movimento se iniciou durante a Conferência Mundial sobre Educação para todos, em Jomtien, em 1990, quando representantes da comunidade internacional concordaram em universalizar a educação básica e reduzir massivamente o analfabetismo até 2015

[2] Prof. Marco Aurélio Máximo Prado (Dep. Psicologia/Fafich/UFMG), Coordenador do NUH – Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania GLBT

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:
Madson Luiz
EDIÇÃO: Lucas Fernandes

Um modo de ver deturpado


IDENTIDADE DE GÊNERO

A a vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays Bissexuais e Transexuais (ALGBT), Liliane Anderson, rompe o silêncio da entrevista, ocorrida em 13 de abril e responde a pergunta de um dos presentes com outra: "Como é que vocês vêem a questão dos travestis?"

Sem pensar duas vezes, a equipe do Jornal da Rua entrou em cena. O resultado desse debate rico em ideias você confere abaixo:

JR (Ricardo):
a gente não vê o travesti no nosso meio de convívio. Eu não vejo no bar, na sala de aula, me atendendo no banco ou no consultório. Eu vejo no sinal, ou fico sabendo de pontos em BH que tem prostituição de travesti. No Brasil, a travesti está colocada de lado ainda, vivendo à margem. Por isso digo que não vejo.

JR (Adélia): eu acho que a prostituição acaba sendo um meio de sobrevivência. Diante da recusa de emprego num consultório, dá má aceitação nas escolas, ela precisa pagar a conta no final do mês e essa acaba sendo a saída. Travesti no Brasil ou é cabeleireira ou é prostituta.

JR (Cristina): outro lado da invisibilidade é você ver de modo deturpado. Muitas vezes vemos na mídia um travesti de maneira muito caricatural. Por isso, a imagem que as pessoas têm está ligada a essa caricatura ou elas simplesmente não vêem.

JR (Adélia): Pode ser que chegue o ponto em que eles ganhem um espaço na TV, assim como os gays e lésbicas, hoje, aparecem de maneira normal, sem caricaturas, na novela das oito, na Rede Globo. As travestis também podem, um dia, ganhar tal aceitação.

Lili: Mais ou menos, né! Quando colocaram um casal de lésbicas na novela “Torre de Babel”, a primeira coisa que fizeram foram explodí-las no shopping. Nós sempre vemos um preconceito enraizado, como pano de fundo. Se analisarmos, essas inclusões não são de forma construtiva, tem um forte lado negativo. E a gente massacra nos fóruns, nas conferências, mandamos e-mails pro Ministério da Cultura pra ver se mudam isso.

>>> Confira o texto principal

Travesti é aprovado, mas quase perde vaga


IDENTIDADE DE GÊNERO

Quem conta o fato é a vice-presidente do ALGBT, a Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Liliane Anderson. Segundo a representante do movimento, o travesti quase teria perdido sua vaga em uma escola pública federal. Uma clara violação dos direitos humanos.

"Aconteceu com uma menina que passou em primeiro lugar no CEFET. Quando ela foi fazer a matrícula, o secretário que olhou para o documento e para ela, virou e falou que ela não tinha passado, que tinham publicado errado. A sorte dessa menina é que ela tinha um pai que a aceitava até na situação de ser prostituta. Ele processou a prefeitura e a menina conseguiu a vaga, além de ser chamada pelo nome social dela, o que é lei e muitos não sabem", conta Liliane.

>>> Conheça a entrevista completa com Liliane Anderson